Diante da escassez global de peças e componentes, as montadoras decidiram usar os poucos materiais disponíveis para produzir carros mais caros, o que derrubou a pirâmide do mercado brasileiro de automóveis novos.
Os carros populares costumavam ser a base para os melhores anos de vendas de carros e agora eles têm uma pequena parcela da produção da indústria. O protagonista é o carro mais caro, especialmente o veículo utilitário esportivo (SUV).
Porque seguir o caminho do carro caro
Segundo levantamento da consultoria Jato Dynamics para o Estadão / Broadcast, 68% dos carros vendidos hoje no país têm preço superior a 70 mil reais, sendo que os carros abaixo desse valor respondem pelos 32% restantes.
A situação não foi revertida até três anos atrás. Veículos com preços acima de R$ 70 mil respondem por 40% do mercado.
A mudança no mix da montadora ocorre há quatro anos, em parte devido à introdução de tecnologias exigidas por regulamentação, mais caras. O fabricante também se reposicionou. Em vez de apostar na quantia, eles estão mais dispostos a buscar o reequilíbrio financeiro por meio de produtos voltados ao público que possam proporcionar aos carros mais conforto, espaço, conectividade, segurança e eficiência.
A pandemia introduziu um novo elemento na equação e a falta de peças disponíveis forçou a indústria a ser mais seletiva. De acordo com a pesquisa de Jato, com base nas vendas de janeiro a junho deste ano, os carros com preços abaixo de 50 mil reais (os mais baratos do mercado e limitados aos pequenos) passaram a representar apenas 3% das vendas.
O segmento de mercado formado por carros que variam de 50.000 reais a 70.000 reais também perdeu participação. É ocupada pela maioria dos modelos básicos de montadoras. Hoje, é responsável por 29% das vendas, ante 36% no ano passado.
É nas duas faixas acima que os modelos produzidos em fábricas há muito tempo descontinuadas desde o início da crise de fornecimento de peças se intensificaram nos últimos meses devido à escassez global de componentes eletrônicos.
A fábrica Onix da GM – geralmente o carro mais popular no Brasil – foi fechada desde março.
É nas duas faixas acima que os modelos produzidos em fábricas há muito tempo descontinuadas desde o início da crise de fornecimento de peças se intensificaram nos últimos meses devido à escassez global de componentes eletrônicos.
A fábrica Onix da GM – geralmente o carro mais popular no Brasil – foi fechada desde março.
Neste mês, a produção do Gol e do HB20 nas fábricas da Volkswagen e Hyundai no interior de São Paulo foi suspensa por alguns dias paralelos.
A Fiat, marca líder em vendas do ano, vem tirando férias de 1.000 funcionários em Betim (MG), onde montou modelos como Uno e Argo, além do carro subcompacto Mobi Kwid, que concorre com a Renault, em O carro do Brasil mais uma posição mais barata.
“A falta de semicondutores está afetando o segmento de entrada porque o foco do setor é a lucratividade. Em média, os preços são muito altos”, disse Milad Kalume Neto, diretor de desenvolvimento de negócios da Jato.